[email protected]

A fluência assusta

“Percebi que estava fluindo e me assustei”, declaram frequentemente meus pacientes.

Esta declaração, muito comum entre as pessoas que têm gagueira, revela um importante aspecto subjetivo: a fluência de fala é estranha à imagem que têm de si como falante.

E por que a própria fluência assusta?

Porque a percepção da fluência desperta o medo ou mesmo a certeza de perdê-la. Desperta medo/certeza de que vai gaguejar.

Pessoas com gagueira constroem, na infância, uma imagem de si como mau falante. Essa imagem sustenta a fala com gagueira ao longo da vida. Por julgar-se assim, estão em constante estado de alerta para a possibilidade de gaguejar. O alerta aumenta quanto mais importância o falante dá às situações de comunicação e às pessoas nelas envolvidas.

Esse alerta é importante porque, a partir dele, a pessoa tenta fazer algo para não gaguejar ou para minimizar a possibilidade de fazê-lo: troca as palavras que lhe parecem perigosas por outras que julga mais fáceis, insere sons ou palavras antes daquelas em que previu a gagueira, muda o tom de voz, abaixa a intensidade da voz, fala mais devagar ou mais rápido, fala sem se permitir respirar, inspira antes de falar, repete a palavra ou som que antecede a palavra temida até sentir que poderá dizê-la, entre outros.

Mas esse cuidado é geralmente bastante frustrante, porque acaba tendo um efeito contrário ao esperado: em vez de sentir que está fluindo livremente ao falar, sente que não tem liberdade para falar como gostaria.

Sem poder entender a razão disso, o falante acaba fazendo sempre mais do mesmo, ou seja, tenta diversificar as formas de controlar a fala.

Gerar condições internas para entender o mecanismo subjetivo da gagueira e poder escutar a própria fluência sem susto, escutar a gagueira sem tentar fugir ou disfarçar, temendo o que os outros vão pensar, é central no processo terapêutico que visa a superação do sofrimento em relação à forma de falar.

Para tratar de gagueira procure um profissional devidamente capacitado para abordá-la em sua totalidade física, emocional e social.

  • arte gráfica Pedro Friedman
  • ano 2017
  • realização
  • apoio