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Gagueira tem cura?

Essa é uma pergunta difícil de responder, feita frequentemente tanto por pessoas que gaguejam quanto por profissionais que tratam do problema.

A lógica habitual de resolver problemas a partir da implementação do seu contrário, como luz para a escuridão, aquecimento para excesso de frio, descanso para a fadiga, leva a pensar na eliminação da gagueira como forma de curá-la. Baseadas neste princípio muitas propostas foram desenvolvidas com o objetivo de fazer a pessoa gaga parar de gaguejar.

Entre elas, encontram-se desde as populares propostas de falar com calma, respirar e falar devagar, até aquelas sustentadas por muitos terapeutas da fala tais como: mudar o tom de voz, falar mantendo um determinado ritmo, atrasar o feedback auditivo da própria fala, suavizar os bloqueios, entre outras.

Todas essas propostas, porém, deparam-se com o conhecido problema de que quanto mais se tenta não gaguejar mais se gagueja.

Isso ocorre porque a produção da fala se orienta pelo sentido do que se está dizendo, enquanto a forma de falar fica no esquecimento e acontece automaticamente.

Quando há a intenção de não gaguejar, o falante pressente a forma gaguejada de falar. O pressentimento de algo indesejado produz um corte no fluxo automático dos movimentos articulatórios, e dá lugar a uma trava, um prolongamento ou uma repetição de sons.

Sendo assim, o tratamento da gagueira não deve direcionar-se a tentar eliminá-la e sim a aceitá-la; a aceitar-se como pessoa com gagueira.

Nossa prática clínica mostra que quanto mais uma pessoa aceita sua fala com gagueira, mais deixa de lutar contra ela e mais fluente se torna, o que é corroborado por várias pessoas que superaram a gagueira.

Aceitar a presença da gagueira na fala favorece sua condição espontânea e automática; favorece guiar a fala pelo sentido do que se está dizendo e não pela forma, pelo como se está falando.

Aceitar a gagueira, entretanto, não é fácil. É um objetivo que demanda tempo, empenho e conhecimento de práticas específicas para ser alcançado.

Um terapeuta especializado nos Problemas de Fluência de Fala, capaz de acolher, entender e desarmar a trama de sintomas que se construíram ao longo da vida, poderá ajudar a desenvolver um modo espontâneo de falar em qualquer situação social.

  • arte gráfica Pedro Friedman
  • ano 2020